De repente. De repente o mundo que você conhece vira do avesso. Parece que você estava vivendo nos primeiros capítulos de um seriado e, de repende, chega o episódio 15, onde as coisas realmente começam a acontecer e a trama desenvolve. Todos sabem que tuo dará certo no fim, ou é o que todos esperam, mas e se não der? E se aquele tiro que vai encerrar a temporada no episódio 24 realmente acertar o mocinho? E se o caixão que abre a temporada seguinte não for o de uma paciente sem importância, mas daquele um personagem que você não queria que morresse?
De repente. De repende, como num passe de mágica, você para de se preocupar com a recuperação de matemática e se pega a pensar sobre o salário do mês que vem, sobre a monografia, se as turmas que você tem atualmente são suficientes. Se pega a devanear sobre o amor, não sobre a paixão. Será que existe mesmo um par perfeito para todo mundo? Será que é mesmo só um? E se eu gostar de dois, três, quatro... Nenhum... Pode isso? De repente não pode e ninguém me avisou. Na verdade, alguém traz as regras desse jogo pra eu dar uma olhada de novo, por favor? Acho que cochilei na hora em que eles estavam explicando o certo e o errado aqui na Terra... Power nap fail...
De repente. De repente, assim do nada, passei a não me preocupar com qual lápis de cor eu vou desenhar a margem ou com a cor do Power Ranger que eu quero ser na hora de brincar, e me vi preocupado com a cor dos números no extrato bancário. Bem que eu nunca gostei muito de vermelho, vai ver já sabia o que me esperava... É, eu ainda não sei quando a volta no quarteirão de casa passou a ser pouco. Por que quando eu era criança era assim, dar a volta no quarteirão brincando de pega-pega ou esconde-esconde era algo surreal, era como viajar pros EUA... Quando é que os EUA viraram tão perto mesmo? Engraçado, sempre vi nos mapas que era um lugar muito longe pra ir...
De repente. De repente a gente cresce muito rápido. Vai ver a vida é realmente curta e a gente reluta em aceitar. De repente eu devia ter falado com a Paula, na 2a série, que eu gostava dela... Se bem que, se a gente parar pra pensar, era realmente muito cedo. De repente se a gente tivesse se conhecido daqui a alguns bons 5 anos as coisas seriam diferentes e, talvez em mais uns 3, teríamos Júlia, nossa primeira filha... Ou Arthur!
De repente. De repente eu me vejo cada vez mais longe da fantasia, e ainda assim cada vez mais perto. Talvez eu deva mesmo começar a escrever o livro que o Bráulio acha que eu devo escrever e ficar rico com ele... Se eu escrever um livro razoável que venda 300 mil cópias e eu ganhar R$1,00 por exemplar, já compro um apartamento. A realidade não gosta da fantasia, isso eu aprendi desde pequeno. Ela sabe que, se todos acreditassem na fantasia, a realidade perderia a moral, e por isso ela faz questão de ser tão dura com as pessoas... Ela provavelmente leu "O Príncipe" e respondeu à famosa pergunta de Maquiavel que o líder deve ser temido.
De repente a realidade está errada, mas ela ainda não sabe disso.